segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Histórias clássicas e suas versões modernas...

Quem não conhece a história clássica da Cigarra e a Formiga, de La fontaine?!

Leia a versão moderna...

 

Livro: “ Cigarra & Formiga Produções Artísticas”,

De Ieda de Oliveira

Ilustrações: Maria Eugênia,
Coleção: Larousse Júnior

Editora: Larousse do Brasil, São Paulo, 2006


Às vezes, tudo o que a gente precisa é relaxar ao som de uma boa música.  Ainda mais a Marcela, que tem um trabalho superestressante.  Mas a cigarra Cibele não canta de graça.  Ela é profissional.  Quem quiser ouvir, tem que pagar.  Afinal, quem inventou que músico não é trabalhador?  O livro faz uma releitura moderna do clássico de La Fontaine, desmitificando com muito humor e inteligência o conceito burguês de trabalho.

Depois de trabalhar um verão inteiro armazenando alimentos para o inverno, Marcela estava esgotada.  Não agüentava  carregar nem mais um grão, muito menos fazer grandes caminhadas.  Essa coisa de trabalhar o tempo todo já estava dando nos nervos.  Sentiu que precisava urgentemente fazer alguma coisa para se distrair.
Já tinha ouvido falar que no sítio Leporá, perto dali, poderia ouvir muita música e espairecer ao canto da Cibele, que, segundo disseram, era dona de uma voz maravilhosa.
Resolveu ir procurar a cantora e poder então descansar ao som do belas melodias.

Reuniu o resto das forças e foi.  Não demorou muito para chegar ao sítio.  Assim que atravessou a porteira, pediu informações de como poderia encontrar Cibele.  Soube então que estava perto dali, cantando à sombra de uma bela árvore, num lugar fácil de chegar.  Bastava prestar atenção e seguir o som.  Ela assim o fez.  Apurou os ouvidos, foi se aproximando e em poucos minutos pôde avistá-la.  Dirigiu-se a ela afoitamente:
- Boa tarde! Eu sou a Marcela!
-Oi, Marcela, tudo bem?
-Tudo.  Seu nome é Cibele, não é?

-Ham,ham..., mas pode me chamar de Ci.
- Tá legal.  Sabe, Ci, eu vim de longe pra ouvir você cantar.  Ando tão  estressada...  Não agüento mais só trabalhar... Preciso me distrair  um pouco.
- Olha só, Marcela, o problema é o seguinte: andaram espalhando por aí umas histórias de que eu não quero  nada com o trabalho, de que vivo cantando, mas a coisa não é bem assim.  Eu sou uma profissional.  Posso cantar, mas você vai ter de pagar meu cachê.

- Cachê?  Mas  onde  já se viu cigarra cobrar cachê?
- E onde já se viu formiga estressada?  Se você não quer pagar, tudo bem.  Volta lá pro seu formigueiro, que eu não “to”  nem aí.
- Sei, sei... Quero ver é no inverno como é que você vai se virar.

_ Olha só, sua formiga folgada, isso é problema meu.  Você nunca ouviu falar em chalé, lareira, colchão de penas de ganso?...
_ E como é que você vai conseguir isso?
_ Ué, dou um jeito...
_ É... Quero ver.  O que eu sei é que quando a coisa aperta, vocês correm para a casa da primeira formiga que encontram.

_ Que mentira!  Quem foi que inventou isso?
_  Olha só, não sou eu que estou na sua porta pedindo.  Você é que está aqui, toda estressadinha, querendo show de graça!... De graça, minha filha, só canto quando quero e agora, definitivamente, não quero.  Ou paga ou nada feito.

Depois de algum tempo de hesitação, Marcela achou melhor concordar em pagar o cachê.  Estava cansada demais pra voltar para casa ou ficar discutindo.  Precisava, com urgência, se distrair.  Concordou em pagar.  Ci, então, começou animadamente a cantar.  E cantou, cantou, cantou... e quando mais a cigarra cantava, mais Marcela se encantava com o seu talento.

Depois de algumas  músicas, Ci fez um pequeno intervalo e Marcela aproveitou para  perguntar se ela cantava em outros sítios ou só naquele.  Ci respondeu que só ficava ali, porque daria muito trabalho procurar outros lugares para se apresentar e ela não tinha jeito pra isso. Marcela então ficou pensando, e teve uma idéia.
_ Ci, o que você acha de ter uma empresária?
_ Empresária?  Como assim?

_ Ah!, alguém que goste de música e que entenda de negócios, que possa viajar, fazer contatos, promover shows, colocar você na televisão, no cinema, no mundo todo!
_ Nossa, acho uma maravilha!  Aparecer na televisão e no cinema sempre foi o meu sonho.  Já tenho até o nome do meu programa: CI ME SHOW.  Mas você conhece alguma empresária?

_ Conheço!
_ Quem?
_ Eu!
_ Você?  Mas você é formiga!  Eu nunca ouvi falar de formiga empresária.
_ Nem eu, mas e daí?  Uma vez tem de ser a primeira.  Olha só: eu gosto de trabalhar andando de um lado pra o outro, gosto de música, gosto de fazer negócios.  Nós poderíamos ser parceiras.

_ Por mim, tudo bem, mas o que o pessoal do seu formigueiro vai dizer?
_ Não sei, talvez seja um escândalo.  Talvez achem um absurdo uma formiga trabalhando com uma cigarra.  Cá pra nós, eles acham que cigarras só gostam mesmo é de cantar, que são preguiçosas e improdutivas.
_ Mas, que injustiça, que absurdo!  E cantar não é trabalho, por acaso?
_ Claro que é, imagina, amiga!  Por isso nós poderíamos juntar nossos talentos.  Você trabalha cantando e eu trabalho divulgando seu canto.  Muito mais gente vai poder ouvir sua voz e vamos trabalhar nos divertindo.  Sem esquecer que vamos ganhar muito dinheiro.  O que você acha?  Negócio fechado?
_ Claro, fechado.  E quando é que começamos?
_ Agora.

E assim, para escândalo geral do formigueiro e adjacências, foi criada a CIMIGA & FORGARRA PRODUÇÕES ARTÍSTICAS. O sucesso foi tanto, e elas ficaram tão  ricas e tão famosas, que muita gente resolveu seguir o exemplo e se unir para fazer parcerias.

O Lobo e cordeiro, por exemplo, criaram a Lobocor Advogados Unidos, escritório especializado em defesa dos fracos e oprimidos; aí um outro lobo, o guará, gostou da idéia e criou junto com o tamanduá, o Tamanguará & Cia.,  empresa de defesa dos animais e seu habitat.  Já a rã e o boi fundaram a Râmboi Associados, academia de ginástica para o corpo e a mente, enquanto o gambá se juntou com a hiena, fundando a Gambena Risos & Repelentes Ltda.,  empresa especializada em afastar com sorrisos os insetos indesejáveis.

E você?  Já pensou com quem  pode se juntar  para fazer uma boa parceria?

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